terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Coisas que Escrevo 48 - Silêncio.

O Silêncio não é algo muito agradável.

Não é exatamente aquilo que se espera, mas acho que ele consegue ser ainda pior do que uma grande perda. Talvez seja como andar sem enxergar e não saber onde se vai bater a cada passo que damos, e não importa se for ele para frente ou para qualquer outro lado que estivermos pensando em correr.

Vazio.

Como algo assim pode machucar tanto sendo que não existe nada ali naquele momento? Pensando bem, acho que agora eu entendi e é exatamente isso não é? O nada.

Não saber se estamos indo ou vindo, não saber o que pode ou não acontecer, não saber se estamos acordados ou ainda sonhando, não saber se ainda estamos vivos ou se já padecemos e agora estamos em repouso absoluto só esperando que tenhamos consciência de que acabou. Voltar para o início.

O Silêncio não é algo muito agradável.

Acho que é aí que tentamos da maneira que pudermos fazer algo para saber se aquilo tudo é de verdade. Um grito, um toque, uma ligação, um choro, uma noite sem sono, não importa o que, mas de alguma maneira tentamos descobrir o motivo de aquilo nos consumir e tentamos lutar para que possamos mesmo que por algum breve momento saber que não se está sozinho.

Vazio.

Nos damos conta então de que não há nada ali, de que não temos ninguém para nos ouvir e tudo o que nos resta é esperar. Você pode me perguntar "pelo que?" mas eu não saberia responder.

Talvez por uma mão que nos puxe de um buraco sem fim, ou por alguma palavra que nos faça perceber que não estamos a mercê desse desespero. Mas na maior parte das vezes isso não acontece. Por mais que abrimos os olhos, prestamos atenção, tentamos correr ou gritamos ainda não existe resposta independente de você ligar o tempo todo.

Então você se entrega. Se tranca ainda mais nesse quarto e não quer mais saber do que acontece a sua volta, não se importa mais em ver que o mundo está ali fora e você desiste de se encontrar. Os dias vão passando e por mais que você não admita, você está sim esperando um rompimento desse vazio que consome sua alma. Espera alguma ligação que te mostre que seu mundo não acabou e a cada movimento em que a chama da esperança se ascende, tão logo se extingue quando não se é quem você espera.

Você só tem o silêncio e o silêncio não é algo muito agradável.

Chega o momento em que você para. Só cansa de ficar a procura de algo que não virá e joga todas as suas fichas no chão. Mas isso não é desistir como você pode estar pensando agora. Não. Isso é abraçar o sentimento de solidão que te consome e mesmo sem saber para onde ir, tomar uma decisão de que rumo tomar. É, é bem isso mesmo, porque pode não ser o caminho certo, mas é o caminho que te fez dar um passo.

Então você caminha. Caminha sem ter um sorriso em seu rosto, sem se aquecer durante o frio ou até mesmo fazer algo para comer. Só continua caminhando e por mais que agora esteja caminhando sempre estará se perguntando porque está tudo tão quieto.

Vazio.

É mesmo, é esse vazio não é? Ele nos faz sentir assim mesmo quando resolvemos dar uma volta no quarteirão. Mas tudo bem, se ele for sua única companhia, que seja, afinal agora você já fez tudo o que poderia para tentar mudar o final de sua história e o mais importante agora é não ter nenhum sentimento de SE. Se você fizesse algo, se você falasse algo, se você mudasse aquilo, se você comprasse algo, se você fosse mais feliz ou se você fosse mais amado.

O silêncio não é algo muito agradável.

Então você começa a se perguntar se algum dia algo foi de verdade. Amor, felicidade, carinho, compaixão, amizade ou coragem. Tudo se foi no momento em que você se vê de pé, caminhando, cego e sozinho. Se essa é a sensação de que a vida terminou, eu acho que a aceitaria nesse momento porque não temos mais nada a perder.

Então o porque de caminhar? O porque de se importar se temos algo ou alguém do lado? Ah, mas sim, você se importa! Por que? Por que me deixou sem saber para onde foi? Porque me fez sentir como se eu não tivesse mais nada em meu mundo? Você não percebe o quanto estou em prantos sem o conforto de seu colo? Por mais que eu consiga me erguer sozinho depois, ficar sem saber dói tanto quanto ser jogado fora! Então por que? Por que me faz pensar isso?

Pensar que não ter nada a perder só significa uma coisa, que de novo estamos sozinhos e quebrados.

O silêncio não é algo muito agradável.


Fernando Vilela Paciencia

1 comentários:

Misteriosa com açúcar disse...

Há sempre algo a mais para se perder.
E o caminhar precisa ser necessário.
Viver, mesmo sem saber se foi de verdade algum dia, é essencial para encontrar as respostas.

E você... É o meu escritor favorito.��

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