segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Coisas que Escrevo 50 - Procuro-me.

Me deparo hoje com uma coisa que está consumindo meus pensamentos.

É tão estranho perceber que tudo o que eu gostaria de estar fazendo está sendo apagado de minhas vontades, e mesmo eu tendo completa consciência disso, ainda não consigo ter forças para lutar e interromper isso que me consome e que não me deixa fazer nada daquilo que eu quero.

Começo a pensar que estou perdendo aquilo que eu sempre achei que fosse.

Mas afinal de contas porque será que eu comecei a me deixar fazer isso? Será que foi algum tipo de medo de não ser aceito? Será que foi alguma vontade de não ser quem eu sou que estava escondida? Será que é algum tipo de pressão por parte de alguém? Será que eu só me cansei?

Eu penso e penso e ainda não cheguei a um senso que me faça decidir, só que uma coisa é certa, eu estou deixando de fazer o que eu gostaria de fazer.

Sair, ficar, correr, andar, estudar, ler, apresentar, desenhar, me interessar, assistir, me distrair, colorir, olhar, dormir, me fechar, mentir, gritar, chorar, me acostumar, me desesperar, ouvir, me ouvir, conversar, beijar, amar, me lembrar.

São tantas coisas que agora deixo de lado que eu não consigo numerá-las e a cada segundo que passo pensando, cada vez mais a minha lista cresce e parece que nunca mais terá fim. São coisas que vejo que vou deixando pelo caminho, como se fossem pétalas de rosas que voam com um vento insuportavelmente forte e que não importa o quanto eu lute, não consigo me agarrar para me proteger e tudo que consigo é ficar firme à minha base enquanto vejo tudo se desprendendo de mim um a um.

O que será que aconteceu comigo?

E sabe, eu não sei porque mas uma coisa eu posso dizer. Eu sei quando tudo isso começou e foi logo assim que terminou.

Foi naquele dia em que você abriu a porta e sem olhar para trás me disse adeus.

Um soco, um tiro, uma palavra, um sentimento, uma dor, uma perda.

Naquele dia eu tenho certeza que tudo começou a mudar e que eu deixei uma grande parte de mim começar a morrer. Eu já não via mais sentido em quase nada que antes eu via sentimentos e mesmo assim eu não conseguia correr por onde você ia. Eu não sabia o que fazer a partir daquela nova vida a qual me encontrara mas tudo o que consegui fazer foi começar a fechar todas as portas que levam a quem eu sou. Comecei a trancar cada pedacinho de mim num lugar tão escuro e vazio que nem mesmo eu saberia onde encontrar se procurasse.

Sim, eu sei que naquele dia em que você foi embora, levou consigo a chave de meus sentimentos.

É não é a toa que digo isso, pode parecer que eu hoje estou sofrendo ou que sou infeliz, mas não é essa a verdade. Eu hoje só não consigo entender porque me deixei consumir tanto depois de que tudo acabou. Afinal, antes eu tinha uma vida sem você e agora que se foi eu teria que ter uma ainda. Ou não? Difícil de me entender.

Mas talvez, e só talvez tenha um motivo apesar de tudo. Acho que talvez se deva ao fato de tudo o que eu sou me lembra a você e eu não quero mais me lembrar. Eu não quero mais chorar ou sofrer. Eu só quero viver.

Espera.

Espera aí.

É isso.

Viver é algo que eu não vou conseguir evitar, e não posso me permitir deixar de viver! Eu sei que tudo está doendo, e que me dói só de lembrar que um dia eu já sorri, mas é exatamente isso que eu preciso fazer. Eu não preciso necessariamente me perder para me encontrar de novo, eu só preciso saber exatamente quem eu sou, independente de lembranças ou coisas a qual passei, tem um pedacinho de mim que ainda é o mesmo. E que eu acabei de escrever nessas notas que eu sim ainda tenho.

Minha base.

Eu tenho uma estrutura a qual pertenço e por mais que tudo mude, eu ainda tenho aquilo a qual eu sempre fui. Eu ainda tenho muitas coisas a minha volta, e que eu só não me lembrava que estavam aqui. Eu preciso me levantar e voltar a fazer a minha vida sem me preocupar com pra onde ela vai me levar. A dor virá independente do que eu fizer, mas eu não posso simplesmente deixar de viver por ter medo por achar que eu não consigo aguentar.

O engraçado é que é tão difícil percebermos o quanto pode parar de doer e mudar se só seguirmos em frente, que tentamos de todo o jeito fazer com que tudo apenas mude para alegria sem que façamos nada. Mas nunca vai ser assim e agora eu percebo. Enquanto não nos decidirmos lembrar de viver, vamos ficar ainda com lembranças que nunca mais nos levarão a lugar nenhum.

Eu hoje escolho viver, para poder encontrar aquilo que pode ser o meu próximo último encontro.

Fernando Vilela Paciencia.

1 comentários:

Adriana disse...

Por que nossas conversas se perderam no tempo? A vida muda, toma outros rumos, mas não precisa afastar as pessoas. Saudades de VC.

Postar um comentário

Deixe aqui o seu recado. =D