sexta-feira, 20 de maio de 2016

Coisas que Escrevo 35 - Despedida.

Hoje seria um dia comum onde nada de mais aconteceria, mas não foi isso que minha vida tinha reservado para mim. Há alguns dias estava eu em meu repouso, quando uma luz brilhou perante meus olhos e de lá uma mão me foi estendida. Eu então a agarrei com força e foi nesse momento que reconheci esse lindo anjo que veio me ver.

Comecei então a sonhar com vários momentos de minha vida. Quando pequena me lembro de aprontar minhas traquinagens sempre sorridente e arteira. Me lembro de quando trabalhava para ajudar meus pais em minha singela casa. E ainda de como era difícil viver com o tão pouco que tínhamos.

Com o passar dos anos fui crescendo e me tornando uma adulta responsável, e por mais que eu não esperasse comecei a trilhar o meu próprio caminho.

Coisas boas e coisas ruins vieram a acontecer.
Pessoas saíram de minha vida, encontrei outras que me foram queridas e ficaram comigo durante muito tempo.

Sem que eu me desse conta, conheci a pessoa mais significativa de minha vida e que até então, mal sabia eu que iria ficar comigo pela minha inteira vida. Comecei assim a ter novas expectativas e novos sonhos, onde dei um passo de cada vez fazendo tudo de acordo com o caminho que meus pés me levavam. Me mudei, me ausentei, me enamorei e até enfim me casei.

Tive uma vida tranquila. Não que tenha sido totalmente plena e feliz, mas qual vida que não tem seus altos e baixos não é mesmo? Mas pode ter certeza que se alguém me perguntasse hoje se eu tive medo ou receio de algo, a resposta seria “medo eu tive, mas temos que enfrentar aquilo que está em nosso caminho.”.

Algum tempo depois nasceriam meus filhos, e vocês acreditem ou não, eu estava pela primeira vez em minha vida tomando o lugar de minha mãe. Estava eu sendo dura e ranzinza com eles e foi aí que eu percebi que as coisas que ela fazia e eu imaginava que era por que ela não me amava, agora eu sabia que ela fazia por se preocupar com cada passo que sua filha iria dar. Eu deveria ter ouvido mais a minha mãe quando ela me dava broncas, conselhos e até mesmo seus sermões. Engraçado de ver que agora minha mãe não era só mãe, minha mãe era agora uma avó e como todas as vovós  paparicava meus filhos, assim como me lembro de minha vó. Acho que vamos trocando de lugar com o tempo.

Meus filhos estavam cada vez maiores e tomando os rumos de suas vidas. Teve vezes em que eu queria que fizessem algo diferente, mas eu sempre amei a todos, cada um a sua maneira. Compreendi que o amor que uma mãe sente por seus filhos não pode ser medido ou comparado. Eu amo a todos do mesmo modo e ao mesmo tempo, e eu daria minha vida se fosse possível para que todos estivessem bem e sem favorecer a ninguém.

Os anos foram passando depressa e a idade já começava a me trazer lembranças de sua visita. Como todo mundo, comecei a ter mais experiências mas meu corpo não acompanhava mais todas as minhas vontades e as coisas que antes eu faria em um piscar de olhos, agora demorariam mais para eu conseguir terminar. Minhas dores já não eram pequenas,e a cada dia mais alguma coisinha me incomodava em algum lugar diferente. Apesar de todos estes contratempos, posso dizer que meus filhos, homens agora, estavam crescidos e cada um com sua vida já formada.

Não teria eu com o que me preocupar, pois meu trabalho eu imaginava que estava feito.

Foi então que percebi que muita coisa ainda havia de acontecer. Comecei a ter novos pequenos para cuidar, para limpar, dar de comer ou brincar. Era tão maravilhoso olhar aqueles pequeninos rostinhos sorridentes, sem nada a entender da vida, mas que um dia saberiam de coisas que eu nem poderia sonhar que viria a existir, mas que para eles seriam coisas comuns como aquela tal de tecnologia.

Me perguntaram uma vez do por que então eu estar cuidando deles, já que seus pais poderiam pagar alguém mais jovem e mais disposta para ficar de olho nesses pequenininhos. E eu só tenho uma coisa a dizer sobre isso, que eu deveria sim para mostrar a eles que a vida pode ser muito mais interessante quando você tem o amor de sua vó, e esse amor em meu coração não faltaria.

Sinto muita falta de meus netos.

Eu quando nasci achava que nunca iria crescer. Quando cresci achei que minha mãe nunca tinha sido criança. Quando virei mãe me dei conta que deveria ter dado mais atenção aos conselhos que recebera antes. E agora que sou avó sei que meus netos irão passar por todas essas mesmas fases, e se irão passar, por que não dar aquilo que eles mais vão precisar em suas vidas? Amor.

Hoje um anjo veio me buscar.

E hoje, meus queridos filhos, parentes, amigos e meus pequeninos netos estão sentindo no fundo de seu coração a perda de alguém querido. Eu sei como é isso. Ao longo de minha vida também perdi pessoas queridas que foram buscadas por seus anjos e se hoje eu pudesse lhes dizer apenas uma coisa eu diria:

"Chorem não por tristeza, mas pela felicidade de que meu amor sempre estará em seus corações."

Não considero isso como uma partida, afinal todos temos o nosso tempo para ir embora. Alguns se vão por estarem tempo de mais aqui, outros por estarem enfermos, e ainda há aqueles que nos são tirados por outras pessoas, como pude vivenciar quando meu filho nos deixou por estar no lugar errado.

Ainda sim estou muito feliz. Poderei matar a saudade deste anjo que já não vejo a 20 anos. Meu querido anjo que me foi tirado muito cedo de meus braços. Sinto seu enorme sorriso e sei que onde eu estiver, estarei cuidando de meus pequeninos e que nunca deixarei seus corações.

Bom, chegou a hora de partir.

Vamos meu querido filho José?


Post dedicado a minha Avó, quando veio a nos deixar em 21/06/2012.

Fernando Vilela Paciencia

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