domingo, 5 de julho de 2020

Coisas que Escrevo 58 - Mediano.

Você já quis ser o melhor ou fez o muito mais além por alguma coisa?


Eu nunca pensei que poderia fazer algo tão além assim e me pergunto se isso é normal?

Durante toda a minha vida, tudo o que fiz foi basicamente me preocupar em manter as coisas na média.


Um aluno mediano.

Um filho mediano.

Um desenhista mediano.

Um tocador de violão mediano.

Um escritor bem abaixo da média.


E para mim, esse era o melhor jeito de levar a minha pacata vida.


Um universitário mediano.

Um namorado mediano.

Um noivo mediano.

Uma pessoa que no meio de todas as outras você nunca iria notar, afinal, eu sempre fui mediano.


Eu sempre pensei que esse era o melhor jeito de viver.


Problemas medianos.

Empregos medianos.

Salários medianos.

Conquistas medianas.

Escolhas que eu decidia só pensando no que me daria menos trabalho.


Para mim tudo estando nesse jeitinho já estava bom. 

Eu não era bom em nada e não seria ruim em nada que me propusesse a fazer.

Sem o que pensar ou me preocupar. 

A média é bem confortável.


E foi em dia como outro qualquer que eu comecei a dar todo o meu melhor.


Terminar coisas que comecei e abandonei.

Resolver problemas que eu achava que não teriam solução.

Me esforçar para fazer a diferença.

Mostrar a quem estivesse a minha volta que eu estava ali.

Me doar com todo o meu coração em tudo que estava fazendo.


É engraçado porque eu estava bem confortável com tudo até ontem, mas hoje algo em mim mudou e eu estou com essa vontade. 

Vontade de entender o que despertou aqui dentro e que está me fazendo caminhar em direção a um futuro.


As pessoas me dizem que eu sempre fui assim, mas isso é mesmo verdade? 

Eu sempre fiz as coisas tentando ser só um cara, mas o que viam em mim não era bem isso.

Alguém presente, compromissado, ouvinte, dedicado, gentil, preocupado. 

Adjetivos que eu nunca usaria para me descrever e tudo por que? 

Porque eu estava tão fechado para não me preocupar que me esqueci do que realmente eu deveria prestar atenção.


Eu deveria ter dado muito mais atenção para esse cara que eu vejo quando olho um espelho.

Será que eu teria feito muita coisa diferente?

Sabe, eu não sei.

Eu paro e penso que tudo isso teve um ponto de partida, então se eu mudasse as coisas, será que esse acontecimento que me fez ver que eu sou diferente aconteceria?


Eu finalmente entendi que eu não faço parte de uma métrica.

São tantas pessoas diferentes, agindo de maneiras diferentes, e o que elas levam?

Ações, conselhos, sorrisos, dor, são tantas coisas que parecem mesmo ser iguais quando você diz, mas elas são incrivelmente diferentes para cada uma das pessoas.

Tento girar e girar e tudo isso sempre me leva ao mesmo ponto de partida. 

Que a partir do momento em que eu olhei para mim mesmo, eu já não era um cara mediano.

Altos, baixos, mas ninguém vai ser igual ao que eu tenho dentro de meu peito. 


Eu entendo isso agora.


Se ninguém nunca vai ser igual eu nunca vou estar na média. 

Posso talvez fazer mais ou menos, mas isso sempre vai ser relativo a quem está avaliando e o que está sendo levado em consideração.


Poxa e se tudo depende de tanta coisa que está tão além da minha percepção, porque então eu não fazer!? 

Eu não ser!? 

Vai dar trabalho!? 

Não vai!?

Isso já não me entra mais na balança.


Naquele dia, em que você me perguntou quem eu queria ser no meu amanhã, eu olhei para quem eu sou hoje.

E eu só tenho a agradecer, porque o cara que eu vou ser amanhã, sempre vai ser quem eu fui esse tempo todo, sempre vai ser o que eu sou hoje e de diferente?


Esse cara que eu percebi só agora vai me dizer que eu, sou o Presente.


 

Fernando Vilela Paciencia.

1 comentários:

Bito disse...

Lao Tzu estava caminhando com seus discípulos e eles chegaram a uma floresta onde centenas de pessoas estavam cortando árvores, pois um grande palácio estava sendo construído. Assim, praticamente toda a floresta tinha sido cortada, mas apenas uma árvore estava em pé, uma grande ávore com milhares de galhos, tão grande que dez mil pessoas podiam se sentar à sua sombra. Lao Tzu pediu aos discípulos para perguntar por que aquela árvore não havia sido cortada, enquanto toda a floresta viera abaixo.

Os discípulos foram e perguntaram:

- Por que vocês não cortaram aquela árvore?

Eles disseram:

- Aquela árvore é absolutamente inútil. Não se pode fazer nada com ela porque todos os galhos têm muitos nós e não tem nenhum galho reto nela. Não se pode fazer colunas a partir dela, não se pode fazer móveis com ela, não se pode usá-la para queimar porque sua fumaça é muito perigosa para os olhos, que ficam praticamente cegos com ela. Aquela árvore é absolutamente inútil, e é por isso que não a cortamos.

Os discípulos voltaram a Lao Tzu, que riu e disse:

- Sejam como essa árvore. Se vocês quiserem sobreviver neste mundo, sejam como essa árvore, absolutamente inúteis. Se vocês forem retos, serão cortados e se tornarão móveis na casa dos outros. Se vocês forem belos, serão vendidos no mercado e se tornarão uma mercadoria. Sejam como essa árvore, absolutamente inúteis. Então ninguém poderá prejudicá-los e vocês crescerão grandes e vastos e milhares de pessoas poderão encontrar sombra debaixo de vocês.

Lao Tzu

Postar um comentário

Deixe aqui o seu recado. =D