domingo, 20 de setembro de 2020

Coisas que Escrevo 60 - Amyr, a Amante.

Hoje eu irei lhes constar a história de Amyr, a Amante.


Nossa nobre protagonista era uma mulher simples. Cheia de vida, voluptuosa, feliz e dona de uma humilde, mas acolhedora Taberna em um vilarejo de nome Troux. Como todos os outros aldeões desta pacata vila, Amyr tinha uma vida bem tranquila, fazendo coisas bem simples no seu dia a dia, mas quando a noite chegava, tinha algo que não a deixava dormir por uma noite completa. O que acontece, é que Amyr era muito apaixonada por um certo homem da vila já a alguns anos e não importava o que fizesse, ele não ligava para ela. Eles sempre moraram na mesma vila e ela o conhecia desde sempre, a vila sendo pequena como era, mas um dia de chuva como outro qualquer quando ela o viu, seu coração se encheu e ela soube que estava apaixonada. Tentara o esquecer desde então por seu amor ser impossível. Esse homem sempre estava mais preocupado em cuidar de todos a sua volta e ele acabava não prestando atenção a quem o amava em segredo. Isso fazia com que o coração de Amyr ficasse triste todos os dias antes de conseguir pregar os olhos, e não importava o tempo que passasse, ela não se esquecia desse que era o maior amor que já havia sentido em sua vida. Cartas de amor que não entregara, momentos a sós com ele que inventava desculpas para não se declarar, seu coração palpitando sempre que ouvia a sua voz, eram só algumas das coisas que Amyr sentia por ele. Sem nenhuma razão, ela só o amava incondicionalmente e o queria em cada segundo de seu dia.


Num dia como qualquer outro, um viajante de terras distantes chegou até a vila de Troux e como todo bom viajante, procurou pela taberna mais próxima para ter uma boa comida e algum lugar para descansar sua cabeça. Ele então se dirigiu até a Taberna de Amyr sem muitos rodeios. Franzino, pequeno, com um sorriso no rosto, cabelos negros como petróleo, uma franja bem grande que lhe cobria os olhos e cheio de bagagens em suas costas, adentrou a Taberna procurando algo para comer antes de se hospedar de fato. Amyr vendo aquele recém chegado, colocou em seu rosto o melhor sorriso que pode conseguir depois de mais uma noite mal dormida e quando ela o recepcionou, para sua surpresa, o viajante assim como se dissesse bom dia, lhe falou que poderia lhe dar o que ela tanto queria sem muita delonga, desde que ela o encontrasse fora da cidade na próxima noite, noite esta que seria de lua cheia. 


Amyr sem acreditar na proposta sem sentido que ouvira riu e não deu importância ao que balbuciava o viajante. Pensou consigo mesma e achou que ele um jovem fora de suas faculdades mentais, talvez por estar a algum tempo sem comer ou pela fome ter ingerido algum cogumelo alucinógeno, mas fato é que ele deveria precisar se recuperar o mais breve possível e já tratou de ir lhe adiantando alguma coisa para comer enquanto esperava o prato do dia, que viera a pedir logo em seguida. Só que quando Amyr lhe trouxe o que comer mais surpresa ela ficou quando ele disse o nome de seu amado ao seu ouvido bem baixinho, quase como um sussurro e como um estalo, algo nela lhe disse e confirmou que este viajante poderia mesmo saber sobre seus verdadeiros sentimentos, mesmo que ela nunca o tivesse visto.


Acreditando nesse franzino rapaz sorridente, Amyr tratou o resto da noite com muita ansiedade mas sem deixar transparecer qualquer coisa e tratou de providenciar o jantar que ele lhe pagara e um de seus quartos que estivera sem hóspedes para que ele pudesse descansar de sua viagem. Tentou puxar assunto com o jovem, mas depois disso ele nada mais disse e apenas sorria e acenava quando lhe fizera algumas perguntas enquanto outras que poderiam lhe dar mais pistas sobre quem seria ele ficaram sem resposta alguma. No fim da noite, Amyr tinha muitas dúvidas em seu coração sobre quem seria esse rapaz, mas ele por alguma razão lhe parecia verdadeiro então ela decidira que faria como ele lhe dissera, então no dia seguinte, ela avisou para as pessoas que trabalham com ela, que iria trazer provisões para reabastecer algumas coisas que estavam faltando e aguardou nas extremidades da vila até que a lua pairasse no céu, se preocupando é claro em levar algumas coisas para fingir que comprara em sua saidinha de mais cedo e não estranhassem quando estivesse voltando. 


Assim que a Lua apareceu na noite mais limpa que a muito tempo não se vira, o rapaz franzino apareceu como se tivesse sido invocado das sombras e assim que viu Amyr sorriu e lhe disse que poderia lhe dar o amor de seu homem em troca de algo que ela não usava mais, não era algo material, era só algo que quando ela tivesse o amor não faria mais uso então não seria como se ela sentisse falta do que não usa, certo? 


Sem saber exatamente como reagir a este tipo de trato que este jovem acabara de lhe propor, a primeira coisa que Amyr podia pensar era afinal de contas, quem diabos era esse jovem e assim perguntou de forma direta e com o olhar fixo seu nome e de onde vinha? Ela fez questão de franzir a testa indagando que só dariam continuidade a conversa se agora as coisas fossem mais claras!


Sem mostrar qualquer reação diferente, o jovem lhe disse que Mujura era seu nome e disse que vinha de um longínquo bosque de fronteiras que com certeza ela nunca tivera cruzado e que ele morava dentro da Árvore do Sofrimento, árvore essa que existe desde a criação do mundo, a mais antiga e mais infeliz de todas! Mas Mujura era diferente, e por gostar tanto de se divertir saía pelo mundo afora dando o que as pessoas queriam e pegando o que não precisavam mais, afinal era uma troca justa para se alcançar a felicidade, certo?


Bom, isso fazia todo o sentido na cabeça de Amyr e então ela concordou então com a proposta deste jovem. Ele sorriu novamente e ele disse que não precisavam dar as mãos ou qualquer coisa do tipo, de onde ele vinha as palavras eram as maiores ferramentas que marcavam as convicções de quem as pronunciavam e que de tão feliz que ele estava, ele iria tocar uma música para ela. De seu bolso, ele retirou uma pequena Ocarina, uma espécie de flauta e de maneira mais afinada e bela que já tivera a oportunidade de ovir, Amyr ouviu uma canção maravilhosa e que lhe encheu de esperança de que tudo daria certo. Ao final, Mujura lhe disse que logo no outro dia, seu amor se declararia a ela e ela teria tudo aquilo que sempre quis ao mesmo tempo em que ele iria partir junto com o que ela lhe deixaria.


Amyr ficou cheia de esperanças, mas relutava em acreditar. Como seria possível algo que desejava tanto parecer ser tão simples de conseguir? Assim ela voltou para a Taberna, deixando as coisas de volta a dispensa e foi logo dormir para a noite virar dia e saber se tudo não se tratara de um sonho. Barulhos de batidas em sua porta fizeram com que seus sonhos lhe fugissem, então Amyr acordou com um salto de um só pé e quando entusiasmada abriu a porta, se deparou com seu Garçom, que se chama Linguado, gritando agitado dizendo que o Padre Régulo o precisava falar urgentemente. O coração de Amyr disparou, podia sentir sua pressão aumentar, o ar lhe faltar e fez tudo o que podia para se recompor naquele momento e como se nada estivesse acontecendo ela foi ao seu encontro do padre que a esperava logo na entrada da Taberna. Estava acontecendo.


Ao se encontrar com o Padre Régulo, suas mãos tremeram, seu coração apertou, a felicidade em seu rosto era visível e iluminava aquela manhã nublada com um sol tímido, mas isso não é problema porque o clima estava perfeito para o amor e era tudo o que Amyr poderia esperar. Após se cumprimentarem de maneira habitual, o Padre Régulo lhe disse que precisavam conversar algo muito importante e pediu para que caminhassem pela vila. A ansiedade era tanta que Amyr não podia suportar, ela dançava sem sair do lugar, ela ria só de Régulo a olhar. Ela mal podia falar e parecia que ia desmaiar e já não consiga deixar seus sentimentos reprimir pois o momento que esperava estava logo ali. 


Quando chegaram à fonte no centro da vila, se sentaram na beirada, um feixe do sol parecia iluminar a fonte e um pequeno arco-íris poderia ser visto por aquele breve momento, foi então que Padre Régulo virou em direção de Amyr, olhou no fundo de seus olhos e lhe disse: 

“Não pense que eu nunca lhe notei Amyr, mas chegou a hora de eu ser sincero com você. Eu nunca poderei lhe retribuir o amor que tem por mim pois todas as pessoas que existem aqui me são importantes da mesma maneira. Eu Amo a todos como igual e espero que você me entenda que eu sempre sou Um com minhas Promessas e nunca irei abandonar minhas palavras. Fico feliz pelo amor que sente e espero que encontre alguém para lhe compartilhar este sentimento maravilhoso.”


Houve silêncio logo após as palavras do Padre Régulo, e com os olhos fixos ao chão, e a cabeça processando cada uma daquelas palavras, Amyr chegou a conclusão:

"Então ele a amava também? É só questão de ele me amar mais do que todos os outros!"


E foi a partir daí, que Amyr mudou. Aos poucos ela começou a perseguir Padre Régulo, tentou fazer de tudo para que ele passasse mais tempo com ela do que com qualquer outra pessoa da Vila. Frequentava as missas em todos os horários, ajudava nos afazeres da igreja, inventava que estava doente, dizia de forma direta à Padre Régulo que lhe amara e que tudo estaria bem se ele estivesse por perto. Na cabeça de Amyr, seria questão de tempo até que conseguisse seu amor apenas para sí e em um dia então fez o que podia para chegar mais perto desse dia. Foi enquanto que o ciúme começou a fazer parte de seu coração, afinal se ele pertencia à ela, ele não poderia estar com mais ninguém. Interromper as conversas do Padre, lhe puxar pelo braço, insistir para ficar em seu quarto, deixar marcas de dedos ao lhe agarrar com força, e só um dia quando tentou cortar a orelha de Régulo para lhe falar ao ouvido todas as noites foi que ela percebeu. Com o acordo que fizera, a promessa de amor que ouvira lhe foi tirada toda a sanidade.


Lutando contra todos os instintos que agora afloravam em seu corpo, ela volto para seu quarto, quando desnorteada, ao fechar a porta viu pairando ao seu redor como um Urubu esperando seu jantar, ela pode ver seu amigo imaginário que tinha quando era criança sempre perto dela e cada vez mais foi percebendo o quanto estava insana. Em um local que só pode notar ao se banhar, viu uma marca que não existia antes e teve certeza que era a prova de seu amor incondicional à Regulo que estava fluindo de suas partes e que fora depois de selar o acordo com Mujura que tudo isso aconteceu.


Amyr então começou a escrever sua história enquanto lhe restava alguma noção do que aconteceu, mas o amor por Régulo é tão forte, que quase me faltam palavras para continuar a escrever. Eu nunca descobriu onde encontrar Mujura novamente para implorar por minha Sanidade de volta e por isso eu devo me isolar para não ser forçada a machucar meu amor só para que ele se lembre de o quanto me ama. As vezes precisamos fazer isso certo? Machucar alguém com tanta força, para ela se lembrar que nos ama! É tudo por amor.


Desde então Amyr vive seus dias esperando, esperando e esperando ansiosa por Régulo, que logo mais virá busca-la em uma noite chuvosa qualquer, para que juntos partam para a viagem mais romântica que alguém poderia lhe proporcionar.


Régulo, eu te amo e sempre vou amar você, mesmo depois que eu morrer. 


Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2. Régulo e Amyr s2.



Fim.


História criada para acrescentar uma lenda ao mundo de RPG de mesa que tenho jogado.

Fernando Vilela Paciencia

2 comentários:

Karine disse...

Gostei muito!!!! Coitado do Régulo, rs

Andressa disse...

Ameeeei! 👏👏👏

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